A importância do Censo de 2010
Artigo publicado em na seção Tendências e Debates do Jornal Folha de São Paulo, em 1º de julho de 2010
Eduardo Pereira Nunes – Presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
O 12º Censo Demográfico, que começa hoje, mostrará a redução da fecundidade e da mortalidade infantil, além do aumento da longevidade
Hoje, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) inicia o 12º Censo Demográfico. Até 31 de outubro, 192 mil recenseadores percorrerão 8,5 milhões de km 2 para visitar 58 milhões de domicílios.
O Censo é a mais completa fonte de informação de que o país dispõe para conhecer as condições de vida da população nas áreas urbanas e rurais dos atuais 5.565 municípios. O primeiro Censo foi realizado em 1872 e revelou que o Brasil da época do Império tinha 10.112.061 habitantes. Iniciamos o século 20 com 17.318.556 habitantes (1900) e encerramos o século com 169.799.170 habitantes (2000).
O Censo de 1910 contou 23.414.177 habitantes e investigou a origem dos imigrantes, a cor e a raça da nossa população predominantemente rural, que crescia 3% ao ano. Apenas seis cidades tinham mais de 100 mil habitantes.
O Rio de Janeiro era a maior cidade (870.475), seguida por São Paulo, com 346.410. Um século depois, o Censo de 2010 recenseará mais de 190 milhões de habitantes. Estudará o destino dos brasileiros emigrantes e revelará a redução da mortalidade infantil e da fecundidade.
Mostrará o aumento da longevidade, o peso da população idosa e o número de pessoas com mais de cem anos numa população predominantemente urbana, que cresce 1,5% ao ano. Atualmente, há 273 municípios com mais de 100 mil habitantes e 14 municípios com mais de 1 milhão de habitantes.
Os Censos mostram a evolução da população municipal e a estrutura etária dessa população; o nível de educação, saúde, emprego e renda; deficiência visual, auditiva e locomotora; condições de habitação e acesso a serviços públicos de saneamento, água potável, energia elétrica, telefonia e internet.
O Censo verificará a existência de calçamento, iluminação pública, esgoto a céu aberto, depósito de lixo próximo a cada rua.
O IBGE pesquisará questões novas sobre etnia e língua falada pelos indígenas; religião; posse de documento de registro de nascimento; emigração internacional; tempo gasto com o deslocamento para o local de trabalho e estudo e acesso a programas sociais de transferência de renda.
Os Censos definirão novos parâmetros para distribuição do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e definição do número de vereadores e deputados. Todos os 314 mil setores censitários, que representam áreas de trabalho de cada recenseador, estão georreferenciados e registrados em mapas digitais.
A cartografia censitária digital foi desenvolvida com software próprio (Geobase) de georreferenciamento de todos os trechos urbanos (quadras, logradouros e faces de ruas) dos 4.005 municípios com menos de 20 mil habitantes. Para os demais 1.560 municípios, o IBGE também usou informações de empresas de roteamento e prefeituras.
O IBGE já associou mais de 52 milhões de endereços de domicílios residenciais urbanos aos mapas digitais de 224 mil setores. Os demais 90 mil setores serão atualizados pelos recenseadores durante o Censo.
O IBGE usará palmtops equipados com GPS nas entrevistas presenciais. Se o morador preferir, poderá solicitar ao recenseador a orientação e senha para preencher o questionário pela internet. O recenseador não precisa entrevistar pessoalmente cada morador. Entretanto, é preciso que haja pessoa capaz de fornecer as informações sobre os membros da família.
O palmtop do recenseador contém o mapa digitalizado do setor censitário sob a sua exclusiva responsabilidade; o endereço dos domicílios desse setor e os questionários eletrônicos.
O recenseador usará um colete com o seu nome, identidade e a logomarca do Censo. Qualquer dúvida será esclarecida pelo telefone do IBGE: 0800-721-8181.
Não deixe a sua cor passar em branco – o que esperar para o Censo de 201o

* Historiadora, pesquisadora de relações de gênero e relações raciais. Atualmente atua como consultora permanente da Comissão de Diversidade da Petrobrás.
Wania Sant’Anna*
Jornal Ìrohìn, 23/06/2009
Texto e foto: http://irohin.org.br/onl/new.php?sec=news&id=4540
“Afastada a questão de desigualdade, resta na transformação biológica dos elementos étnicos o problema da mestiçagem. Os americanos do Norte costumam dizer que Deus fez o branco, que Deus fez o negro, mas que o Diabo fez o mulato. É o ponto mais sensível do caso brasileiro. O que se chama de arianização do habitante do Brasil é um fato de observação diária. Já com um oitavo de sangue negro, a aparência africana se apaga por completo é o fenômeno do passing nos Estados Unidos. E assim na cruza contínua de nossa vida, desde a época colonial, o negro desaparece aos poucos, dissolvendo-se até a falsa aparência de ariano puro.” Paulo Prado, Bacharel em Direito, fazendeiro, empresário e influente porta-voz da aristocracia paulista, em Retratos do Brasil, de 1928.
Em maio de 2008, no aniversário de 120 anos da Abolição do trabalho escravo, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) fez ecoar por vários órgãos uma informação, para muitos, bombástica: mantendo-se as tendências demográficas atuais para a população brasileira de “cor/raça” branca e negra, em 2010 a população negra deverá ser maioria no país.
No Brasil, acontecimento como esse tem uma longa história, com vários capítulos, e todos difíceis de serem tratados em um único artigo. No entanto, existe algo sobre ele que ressalta como especial. Ao contrário do desejo – manifesto ou oculto – de transformar o país em uma nação menos negra que o perfil da população demonstrava ao final da escravidão – e ao contrário da ideologia do embranquecimento – empreendida e glorificada por diversos meios ao longo de mais de um século – os afro-descendentes no Brasil não desaparecerão de forma tão simples quanto se pôde, um dia, imaginar.
Essa provavelmente maioria em 2010 demonstra a superação de barreiras impressionantes a sua existência física e cultural. Nunca é demais lembrar, por exemplo, que os incentivos público e privado à política de migração européia de finais do século XIX e início do século XX, responsável, em seis décadas, pelo ingresso de mais de 4 milhões de cidadãos europeus, teve como uma de suas justificativas o embraquecimento da população brasileira e resultou, entre outras conseqüências, no desprezo e restrição ao uso da mão-de-obra recém-liberta em atividades produtivas tanto nas regiões urbana como rural.
O histórico de esquecimento e desvalorização dessa parcela da população pode ser percebido em quase todas as esferas de realização de direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. Por todo o país, a grande maioria da população afro-brasileira enfrentou, no seu primeiro século pós-escravidão, o infortúnio da fome, da insalubridade, do analfabetismo, da interdição ao voto por não saberem ler e escrever. Por todo século, em liberdade, os afro-brasileiros viram-se como alvos de aparatos de segurança por cultuarem os orixás, por jogar capoeira, por realizar rodas de samba, por não terem carteira de trabalho assinada, por terem uma “aparência suspeita”. Como diz o samba enredo, atravessou-se o século longe dos açoites da senzala, preso na miséria das favelas.
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