Seminário Internacional de Dados Desagregados por Raça e Etnia da População Afrodescendente das Américas
Brasil – junho de 2009
“Não podemos nem queremos esperar mais 10 anos para sermos cidadãos reconhecidos por nossos Estados. Os censos devem dar conta da população real de cada país”, afirmou Epsy Campbell, em junho de 2009, durante o Seminário Internacional de Dados Desagregados por Raça e Etnia da População Afrodescendente das Américas, que aconteceu em Brasília.
A exposição da ativista costa-riquenha demonstra a insatisfação da sociedade civil com os subregistros da população afrodescendente das Américas. Na região, somente nove países contêm bases de dados para identificação de afrodescendentes.
Um dos principais desafios a serem enfrentados é aplicação das variáveis raça e etnia, de acordo com o contexto histórico e político de cada país. No caso dos afrodescendentes, segundo a ativista, a variável raça é “imprescindível para a contagem, porque a estratificação racial é produto do racismo”.

Gestor@s e ativistas participam de seminário internacional, em junho de 2009, em Brasília
Epsy Campbell explicou que “a discriminação se dá pelo que é visto. A marca racial é real. O racismo é construído através de marcas e características raciais. Minha pele negra existe, apesar de ter gente que afirma não existirem diferenças raciais”, disse ela ao ressaltar que não é a “raça que gera o racismo. O racismo é um conceito baseado na superioridade racial”.
Reconhecimento da escravidão
Para Sandra Aragon, do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas, o enfrentamento do racismo se efetivará com a desconstrução da ideologia do racismo. “A Conferência de Durban resultou no primeiro documento das Nações Unidas de reconhecimento da escravidão, do tráfico transatlântico e do colonialismo como tragédia humana”. Aragon considerou que a Conferência de Durban incentivou um diálogo intercultural e de respeito à diversidade, movimentos que estabelecem as bases para um “processo de mudança para desmantelamento da ideologia racista”.
Na apresentação das pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde, Adauto Martins destacou a participação do movimento negro na definição da Política Nacional de Saúde da População Negra. “Muito do que temos hoje é produto da indução dos movimentos. Temos dificuldades de enxergar as iniqüidades e ainda vai levar um tempo até internalizar”. Ao final de sua exposição, Adauto avaliou que é preciso avançar na implementação do plano operativo da Política Nacional de Saúde da População Negra.
O seminário teve como marco a c riação do Grupo de Trabalho de Afrodescendentes das Américas para os Censos de 2010. O evento foi realizado pela Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) em parceria com IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), IPC-IG (Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo), e o MRE (Ministério das Relações Exteriores); com o apoio do UNIFEM Brasil e Cone Sul (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas).
Deixe uma Resposta